A natureza do homem republicano

AutorArnaldo Ourique
Cargo do AutorLicenciado, Pós-Graduado e Mestre em Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Páginas85-87
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A NATUREZA DO HOMEM REPUBLICANO (
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)
Vamos finalizar o ano de 2010 dedicado aos 100 anos da República a uma mera
divagação natalícia. O caro leitor sabe que o que escrevemos hoje pode ser válido daqui
a mil anos como apenas por uns meros dias. Pois bem, este texto tem esta verdade
subjectiva; isto é, estamos plenamente convencidos, agora aqui neste momento, que
estamos certos; e temos a certeza que estaremos certos enquanto não tivermos melhor
ideia. Eis uma matriz republicana: a certeza da incerteza certa, coincidente ou corolário
da era moderna.
Por isso é quase certo que uma monarquia, mais ainda no sentido que hoje conhecemos,
é um sistema impensável no futuro. O valor da ignorância e do saber do homem tem
uma dimensão difícil imaginar um retrocesso neste aspecto porque já não admissível, é
aliás contra natura que o poder de todos esteja num único homem enquanto ele vive e,
pior ainda, exclusivamente para os seus descendentes.
Imaginemos, por ora, que os nossos presidentes da Terceira República Democrática
seriam reis. R
AMALHO
E
NES
ou M
ÁRIO
S
OARES
, estes, ainda assim, seriam bons
exemplos em muitos aspectos. Agora imagine o sofrimento que seria se fosse J
ORGE
S
AMPAIO
ou C
AVACO
S
ILVA
, enfim viveríamos infelizes toda a vida. Porquê?: porque
nos seus mandatos demonstraram que têm falhas estruturais na interpretação da
democracia, um dando jeito aos amigos, outro que pensa a República como um quadro
estatístico e económico. Verdade seja dita: nuns casos ou noutros, sendo reis,
naturalmente que a sua actuação seria diferente, talvez mais coincidente com o estilo de
Dom Duarte de Bragança. Ou que o seria o Pai Natal e seus descendentes: as crianças
gostam, os adultos divertem-se. Mas, certo é, no entanto, que a matriz cultural seria
aquelas e não outras. Esse é um valor nem sempre entendido: o de que sendo o poder
transitório, transitória é a precariedade. É um princípio real, isto é, advém da própria
natureza: tudo é transitório e assim permite a evolução em todos os sentidos ao jeito da
liberdade de todos os homens. No dia em que se deliberar a monarquia, essa deliberação
(
40
) Este texto é inédito. Foi preparado para publicação mas por questões de acessibilidade
electrónica não chegou a sê-lo.

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