Pensamento republicano

AutorArnaldo Ourique
Cargo do AutorLicenciado, Pós-Graduado e Mestre em Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Páginas55-56
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PENSAMENTO REPUBLICANO (
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)
Relembramos que estamos, neste ano, a escrever sobre os 100 anos da República que se
comemora no próximo dia 5 de Outubro.
Quando publicamos uma brochura ou uma conferência que se tenha feito compreende-
-se que o estudo seja omisso acerca de muitos aspectos, uns comprovativos, outros
ilustrativos de certo pensamento. Isso já é complicado quando se refere a um estudo
publicado na forma de livro: torna-o, logo à partida, um produto inacabado. Este é o
defeito de O que é o Direito seguido de A Crise do Direito e Outros Estudos Jurídicos
de
JOSÉ HERMANO SARAIVA
: demasiado denso para o leitor não especializado,
demasiado supérfluo para os que se movimentam nesta área do conhecimento. Mas é
sempre uma obra do Mestre – que em tudo quanto faça perspectiva-se uma centelha de
luz. A determinada altura ao referir-se à sistemática ideia de crise do direito, diz-nos o
Autor assim:
A noção da precariedade de tudo que é contemporâneo não é, aliás, específica do
direito. Diz respeito a toda a experiência humana, porque é uma condição do próprio
facto da existência, Quem vive, move-se, e todo o movimento da vida se situa entre duas
imobilidades: a do passado e a do futuro. Quem percorre um caminho tem à sua frente
a paisagem imóvel que o espera, tem atrás de si a paisagem que já viveu. E ambas
parecem perfeitas, ordenadas, respiram tranquilidade e paz, a comparar com a
vertigem fugidia do lugar que se percorre. Ao longe, distinguem-se relevos e planícies,
as linhas das cumeadas, os povoados são arrumados e brancos, distingue-se bem onde
a terra termina e principia o céu. Ao pé, tudo se confunde e se mistura, os pormenores
atropelam-se e não deixam fazer sínteses: o longe é sempre a ordem, o perto é sempre o
caos, e a velocidade da vida aumenta a sensação de crise».
Este trecho reconduz-nos àquilo que designamos por pensamento republicano. Na
monarquia há estagnação: o poder é sempre de um clã, possivelmente por muitos
séculos. Isso provoca um desinteresse estrutural pela coisa pública: o presente é sempre
(
26
) Publicado em 19-09-2010.

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