Legitimidade republicana, 1

AutorArnaldo Ourique
Cargo do AutorLicenciado, Pós-Graduado e Mestre em Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Páginas35-36
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LEGITIMIDADE REPUBLICANA, 1 (
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Um dos pilares de qualquer homem está no princípio da legitimidade – que é aliás
transversal a qualquer sociedade. Mas este é tão desprezado e tão desconhecido como a
sua importância. Mas o que é isso da legitimidade?
Como é possível um intelectual viver uma vida de não acompanhamento das notícias da
comunicação social e escrever sobre a sociedade?, sobre a política?, sobre os problemas
que afligem o mundo actual? A
UGUSTO
C
OMTE
defendia uma ideia de três estados
mentais da evolução do homem: o estado teológico que seria um estádio inicial, vamos
designar estádio 1; o estado metafísico, o 2, que corresponderia a um estádio mais
avançado do homem; e por fim o estado científico, o 3, que consiste num estádio
intelectual maduro e consciente. Aplicando essa ideia, aqui apenas para ilustramos certo
patamar de evolução, parece estarmos perante um intelectual que vive no estádio 2. Ao
não acompanhar as notícias naturalmente que falando desses problemas é uma reflexão
sem conexão empírica, que o mesmo é dizer sem substrato. Portanto, um homem assim,
sendo sério consigo mesmo, teria a ideia de falta de legitimidade para falar daquilo que
despreza cognitivamente. Para falar e para escrever sobre certo assunto só o deve fazer
quem tem legitimidade; e esta ganha-se com actos, primeiro internos e só depois
externos.
Como é possível um intelectual fazer uma recensão de romance novo depois de passar
uma vida inteira sem ler nenhum romance? Como é consabido, o romance é um dos
elementos que nos fornecem dados do imaginário da sociedade. Sem a sua leitura o
homem perde uma visão estrutural e profunda da sociedade, embora não
necessariamente científica ou técnica, mas pelo menos empírica, dados concretos, umas
vezes fantasiados outros não tanto. Como pode um intelectual falar dum romance sem
conhecer essa “realidade”? Falta-lhe legitimidade para falar de documentos que durante
uma vida inteira desprezou. Que conhecimento?, que ideias novas ou matizes
reinventadas pode esse intelectual nos fornecer depois dum vazio de tanto ano?
(
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) Publicado em 05-07.2010.

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