República, a maior invenção do homem?

AutorArnaldo Ourique
Cargo do AutorLicenciado, Pós-Graduado e Mestre em Direito, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Páginas51-52
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REPÚBLICA, A MAIOR INVENÇÃO DO HOMEM? (
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Em 2000 foi publicado um interessante livro de J
OHN
B
ROCKMAN
onde apresenta um
conjunto “dos mais importantes pensadores da actualidade”, cada qual indicando a
maior invenção dos últimos dois mil anos. A caravela portuguesa é uma das invenções
eleitas assim como o auto-governo, a inteligência distribuída em rede, a mente colectiva
exteriorizada, o cesto, a televisão, o espectroscópio, o papel, o cálculo e tantas outras
ideias não faltando o computador e a internet. Talvez por estar o tema limitado aos
últimos dois mil anos, talvez por isso, não nos sejam apresentadas muitas invenções –
das quais distingo aquela que é a mais importante de todas: o conhecimento, a
descoberta por cada homem, no seu íntimo, da beleza em buscar constantemente o
conhecimento sem um fim último que não seja o conhecimento. Essa invenção, que
nasceu há mais de milhares de milhares de anos e continua sendo descoberta porque é
descoberta pessoal, de cada pessoa, será, sem reservas, aquela invenção que permite
todas as restantes invenções. S
ANTO
A
GOSTINHO
a certa altura admira-se (Livro X, VIII
d’As Confissões): «Grande poder o da memória, desmedidamente grande... que
santuário imenso e infinito! Quem tocou o seu fundo? É exclusivamente um poder do
meu espírito e que deriva da minha natureza; e no entanto não posso discernir tudo o
que sou. Seria, então, o espírito demasiado estreito para se possuir a si mesmo? Mas
onde se poderia encontrar, então, o que lhe escapa do ser? Fora dele e não nele? Mas
como não o consegue ele discernir? Eis uma matéria de espanto para mim; apodera-se
de mim o pasmo». Se bem se reparar, embora ele coloque a tónica na memória, o que
está verdadeiramente em causa (e sabemos todos que ele sabia disso) é o conhecimento,
precisamente a descoberta individual.
Mas descendo a um patamar de invenções num outro sentido técnico, outra será a
invenção das invenções: a república. Não a república actual nem a do liberalismo, não a
república medieval nem romana, mas muito anterior a sua origem. Os primeiros homens
tiveram necessidade de organizar-se, a família, o grupo, o clã, a aldeia, a cidade, a
região. A organização de forma natural encaminha-se para a forma de governo
monarquia (no sentido de governo de uns poucos e não potencialmente todos como na
(
24
) Publicada a 05-09-2010.

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