Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores n.º 20/2023/A de 17 de maio de 2023

Data de publicação18 Maio 2023
Número da edição56
ÓrgãoAssembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores
SeçãoSérie 1

A «Viola da Terra» é o mais típico instrumento musical dos Açores. É símbolo e património identitário da Região.

Desconhecem-se as suas origens. Os primeiros registos da «Viola da Terra» remontam ao século xviii, acreditando-se que terá descendido de uma viola comum que deu origem às várias violas de arame portuguesas. Trazida para os Açores pelos povoadores, adotou naturalmente caraterísticas próprias do arquipélago e dos construtores locais que dela fariam a «Viola da Terra».

Sobreviveu, ao longo dos séculos, pelas mãos do nosso povo, adquirindo uma forte importância social e cultural. Fazia parte do dote do noivo e era guardada, durante o dia, no quarto do casal sobre uma colcha axadrezada para, à noite, se assumir como elemento central dos serões, das festas e das cantorias.

Construída de forma artesanal, variando a sua qualidade consoante o domínio da técnica por parte de cada construtor, seguiu sempre os mesmos padrões de construção do corpo em forma de oito, tampo harmónico paralelo às costas, ilhargas, braço, cabeça onde se fixam as cravelhas e cordas de arame dispostas em ordens. Era essencialmente tocada pelos «mestres» e aprendida por observação e imitação.

No corpo da «Viola» figuraram, desde sempre, símbolos da identidade açoriana: os dois corações - o coração de quem parte emigrado e o coração de quem fica, a lágrima da saudade, a coroa do Espírito Santo, o açor, que terá dado nome ao arquipélago. Suscetíveis de diferentes interpretações, é certo, o inegável é a forma como a «Viola da Terra» se afirma como expressão da nossa identidade.

De geração em geração, a «Viola da Terra» está nos sons das nossas nove ilhas. Está nas folgas e chamarritas, nas romarias e arraiais, nos bailes de roda, nos ranchos folclóricos e nas cantigas ao desafio. Está nas folias do Espírito Santo, nos ranchos de Natal e nas danças de Carnaval. Está nas velhas, nos pezinhos, nas sapateias, nas auroras, nas saudades. Está na vivência e nas mais genuínas expressões culturais do ser açoriano, mantendo, graças ao isolamento insular, a grande riqueza do seu repertório original.

É esta presença constante e esta relação tão intrínseca com quem somos enquanto povo que permitiram que a «Viola da Terra» sobrevivesse até aos nossos dias, mesmo quando ameaçada, nos anos 50 e 60, pela emigração, pela guerra colonial e pelo desaparecimento de muitos dos seus mestres. E que continue a recriar-se.

Nas últimas décadas, assistimos a uma revitalização deste instrumento com o surgimento de...

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