Diálogo sobre a independência dos Açores, 2

AutorArnaldo Ourique
Cargo do AutorFaculdade de Direito de Lisboa
Páginas82-84
82
Diálogo sobre a independência dos Açores, 2 (
28)
Este texto, um segundo que não estava previsto, só tem sentido se lido o
primeiro. E, como vimos, estavam junto à Sé Catedral dos Açores em Angra do
Heroísmo Simplício, homem conhecedor da sociedade, Complexus acérrimo defensor da
independência açoriana, e Eutu, autor de livros para crianças, e discutiam a
independência política dos Açores. Dirigiram-se à pastelaria Athanásio para o café, e eis
que ali encontraram um companheiro, Savonarola , acérrimo defensor da autonomia, e a
conversa continuou nestes termos:
Savonarola: Como Vos percebi, tu Simplício continuas contra a
independência dos Açores mas estás mais esclarecedor do verdadeiro alcance desse
modelo; e tu Complexus, é certo que continuas pela fuga da independência, mas também
agora mais esclarecido aqui pelo nosso amigo Eutu. Quase que podemos concluir,
enfim, que aceitam tudo em nome da autonomia. Isto é, de um lado, não sendo possível
a independência, ao menos a autonomia; do outro lado, a uma autonomia baseada à
custa do Estado; logo, parece-me lógico concluir, que sois de parecer que estamos
presos à autonomia e que daqui não podemos sair...
Eutu: De modo algum. A independência que Complexus preconiza, a única
forma política que aceita, com uma diferença já realçada por mim e por Simplício:
talvez não tanto uma independência pura, mas mais uma independência ao modelo dos
EUA, ou da Suíça ou da Alemanha, ou até mesmo do Brasil, isto é, a formação duma
federação de estados, melhor dizendo, de pseudoestados.
Complexus: Isso é a opinião do meu amigo. Eu continuo a achar que é
possível e desejável a independência pura.
Savonarola: Creio, se me permitem, não vale a pena voltarmos atrás no que
discutiram. O que importa agora, e é isso que quero sublinhar, é que a autonomia está
presa do seu próprio modelo: não é possível a independência porque não há coletivo
nesse sentido, e desculpem-me a franqueza, porque existem apenas meia dúzia de
carolas interessados na independência; mas também está presa à sua condição de
dependência absoluta do Estado. É esta, creio, a condição autonómica hodierna.
(28) Publicado na revista XL do Diário Insular, em 29-07-2012.

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