Acórdão nº 00321/13.2BECBR de Tribunal Central Administrativo Norte, 29 de Janeiro de 2015

Magistrado ResponsávelCristina Travassos Bento
Data da Resolução29 de Janeiro de 2015
EmissorTribunal Central Administrativo Norte

Acordam, em conferência, os Juízes da Secção do Contencioso Tributário do Tribunal Central Administrativo Norte: 1.Relatório A Fazenda Pública, interpôs recurso jurisdicional da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra, dado esta ter julgado procedente a oposição deduzida, por E..., contra a execução fiscal nº 010200701027689 e apensos, instaurada para cobrança de dívida de IVA do ano de 2007.

A Recorrente terminou as suas alegações de recurso, formulando as seguintes conclusões: 1 – A presente oposição foi interposta no âmbito do processo de execução fiscal nº0710200701032453 a correr termos no Serviço de Finanças de Cantanhede, por apenso ao processo de execução fiscal principal 0710200701027689.

2 - Por douta sentença de 15/11/2013, proferida pela Meritíssima Juíza do tribunal “a quo”, a referida Oposição foi julgada procedente, decisão com a qual não pode a Fazenda Pública concordar.

3 - Com efeito, entendeu o Tribunal “ a quo” que a citação pessoal do oponente não tinha ocorrido, nem devia ser presumida e consequentemente, considerou a presente oposição tempestiva, ao abrigo do disposto no artº203.º, nº1, al. a), do CPPT.

4 - Com todo o respeito pela douta decisão “a quo” e reconhecendo a análise efetuada pela Mmª Juíza, entende a Recorrente que existiu erro de julgamento na apreciação da tempestividade da oposição e consequente decisão sobre o mérito da questão.

5 – Ora, o ato de citação constitui um ato processual, praticado no âmbito de um processo judicial, perante o órgão de execução fiscal.

6 – E portanto, a alegada falta de citação é uma realidade processual que deve ser requerida perante o órgão de execução fiscal, só podendo haver intervenção do Tribunal no caso de reclamação da decisão que sobre ele tomada por aquele órgão, conforme artº151.º, nº1 e 276.º e seg., ambos do CPPT.

7 - A jurisprudência tem vindo a entender que as nulidades do processo de execução fiscal decorrentes, quer da irregular citação, quer da falta de requisitos do titulo executivo, não estão previstas no artº204.º do CPPT, designadamente na alínea i) do seu nº1, a este propósito, realça-se o acórdão do STA, de 21 de Maio de 2008, proferido no processo nº0220/08, no qual se sintetizou o seguinte: “Sendo a citação um acto de processo de execução fiscal, a sua validade não serve de fundamento à respectiva oposição, sendo naquele processo que devem ser apreciadas as questões relativas à sua validade”.

8 - Com a ressalva do devido respeito, não pode a Fazenda Pública conformar-se com o doutamente decidido, porquanto considera que a douta sentença enferma de erro de julgamento, porque colhe a sua motivação na falta de citação do executado/Recorrido para a execução.

9 - Como refere o Acórdão do Pleno da Secção do STA, proferido em 28.02.2007, Proc. 0803/04, "...a nulidade da citação consubstancia uma nulidade do processo executivo e as nulidades devem ser invocadas no processo em que ocorreram, tendo em vista a sua sanação e o prosseguimento do processo. Ao passo que a oposição à execução persegue a extinção do processo...".

10 - Ora sendo a falta de citação equiparada à nulidade, tal matéria constitui nulidade do processo executivo que nele deve ser arguida, cf. al. a) do n. 1 do art. 165° do CPPT.

11 - E assim, a douta sentença padece de erro de julgamento, por ter violado o disposto nos artºs. 165° n. 1 a) e 204°, ambos do CPPT.

12 - E quanto ao facto da Mmª Juíza justificar a apreciação de tal questão nos presentes autos, dizendo que “ Embora se aceite que o processo de oposição não é o meio processual adequado para conhecer da falta ou nulidade da citação, afigura-se que os princípios da economia e celeridade processual permitem que, a titulo de questão prejudicial, tal matéria possa ser apreciada neste tipo de processo”, sempre diremos que tal entendimento seria admissível se o Executado/Recorrido tivesse antecipadamente suscitado a questão perante o Órgão de execução fiscal e, caso não lhe tivesse sido dada razão, então poderia interpor os presentes autos de Oposição, com os fundamentos indicados na petição inicial, ao abrigo dos tais princípios indicados na douta sentença, mas dentro dos prazos estabelecidos no Código de Procedimento e de Processo Tributário (artº276.º e 203.º nº1 al. a) e b), ambos do CPPT).

13 - Ou seja, e com todo o respeito que é devido, a Mmª Juíza do Tribunal “a quo” ignorou todos os prazos legais a que o executado/Recorrido estaria sujeito, justificando/escudando a sua intervenção ao abrigo de princípios como a da celeridade processual e economia, o que, no nosso entendimento, existe errado julgamento porque tais princípios não podem sobrepor-se ao principio da legalidade.

14 - Neste sentido, também o Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, proc. 0671/08, de 03/12/2008, em que é referido sumariamente: “ A eventual nulidade de citação do executado deve ser conhecida no processo de execução fiscal e não no processo de oposição à execução” e também é mencionado no douto acórdão que “O interessado pode e deve arguir essa alegada nulidade no processo executivo, com eventual reclamação, se for caso, disso, para o Tribunal.” 15 - E sendo assim e tendo em conta que a citação do executado, ora Recorrido, foi feita em 24-12-2009, manifestamente que a presente oposição é intempestiva, face aos prazos estabelecidos na al. a) do nº1 do artº203.º do CPPT.

16 - E a extemporaneidade da oposição determina desde logo a não pronuncia do Tribunal no tocante às questões de mérito suscitadas na respetiva petição, ainda, que de conhecimento oficioso – conforme Acórdão do STA, proc. 0196/09, de 25-03-2009.

17 - Por outro lado, e paralelamente ao facto de a Mmª Juíza ter decidido apreciar a alegada nulidade de citação (ao abrigo dos princípios da celeridade e economia processual) situação ao qual manifestamente não concordamos face às razões de facto e de direito acima expostos) também discordamos de todo com a solução dada a esta matéria quando a Mmª Juíza decidiu que “ a citação pessoal do oponente não ocorreu nem deve ser presumida, esta oposição é tempestiva”.

18 - Isto porque, a citação foi recebida pela mãe do ora Oponente/Recorrido, tal como é referido por este na petição inicial, e que consta da assinatura no aviso de receção da citação, como sendo “ L...” e tal citação foi enviada para o domicilio fiscal deste, ora Oponente. – Vide Documento de fls. 65 dos autos.

19 - Domicilio este que ainda se mantém como sendo o atual domicílio do Oponente, tal como está identificado no início da petição inicial, onde está referido que o Oponente/Recorrido reside na “Rua…, 3770-017Bustos”.

20 – Entendemos, também, e com o devido respeito, que douta sentença, na matéria de facto dada como provada omite que “L...” é...

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